MÓDULO 1 - ASPÉCTOS HISTÓRICOS: PRODUÇÃO ENXUTA AO LEAN HEALTHCARE
OBJETIVOS:
Conhecer o surgimento e evolução da produção enxuta;
Identificar quando a produção enxuta passou a ser implementada no setor de serviços e da saúde;
Conhecer os resultados obtidos com o lean healthcare;
Disponibilizar links e referências de textos completos.
O Lean healthcare consiste na adaptação do método Lean manufactor (produção enxuta) derivado do sistema de produção da Toyota Motor Company, fabricante de veículos automotores japonesa, fundada em 1937. O Sistema Toyota de Produção (STP) foi criado por Eiji Toyoda e Taiichi Ohno após a segunda Guerra Mundial, de modo que esses empreendedores revolucionaram a forma com que se produziam carros naquela época (GABASSA, 2014).
Eiji Toyoda, ao tentar implementar o sistema de produção norte americano, que conheceu por meio de uma visita ao complexo fabril da Ford, em Rouge, nos Estados Unidos da América (EUA), considerado o maior e mais eficiente na época, encontrou muita dificuldade, e junto a Taiichi Ohno, chegaram à conclusão que o modelo de produção em massa não funcionaria no Japão. A Toyota tinha em sua frente um cenário difícil, haja vista que o mercado japonês estava devastado pela guerra e era muito menor que o americano, tinha demandas variáveis, não havia como investir em tecnologias estrangeiras e a produtividade americana era nove vezes maior que a japonesa. Eiji e Ohno passaram, então, a pensar em um sistema para o cenário e perceberam a existência de custos e atividades desnecessárias para a produção, formulando um sistema focado na redução de desperdício e geração de valor para os clientes (WOMACK; JONES; ROOR, 2004; CHAVES-FILHO, 2010; ESTEVES, 2015).
O termo lean começou, assim, a ser usado para descrever os resultados deste sistema que produzia com a metade de tudo, e que logo ficou definido como um método (WOMACK; JONES; ROOR, 2004). A partir dos resultados obtidos pela Toyota, outras indústrias automobilísticas começaram a implementar esse método e logo industrias que fabricavam outros produtos também voltaram seus olhares para o lean (FARIA, 2013).
Entretanto, somente na década de 1970 o setor de serviço começou a reconhecer o potencial desta metodologia por meio de dois artigos escritos por Levitt em 1972 e 1976. Estes dois artigos mostram como era ineficiente e antiquado o setor de serviços comparando-o ao setor industrial (TAVARES, 2014).
Dada a sua alta eficiência na indústria automobilística, o método lean tornou-se uma importante ferramenta com grande potencial de aplicabilidade no setor saúde. Em seu livro, Graban (2013), relata as dificuldades em encontrar precisamente em que momento os hospitais perceberam que o lean poderia ser utilizado. Relata, ainda, que foi em 1990 que alguns hospitais, com a ajuda de fabricantes de automóveis dos EUA, começaram a utilizar o método.
De acordo com Silberstein (2006), uma das primeiras publicações a relacionar o lean ao serviço de saúde foi descrita por Bowen e Youngdahl, em 1998, com o trabalho “Lean service: in defense of a production-line approach”, no qual os autores citaram um caso de abordagem dos princípios enxutos no Hospital Shouldice que tem foco único em cirurgias de hérnia inguinal. Este hospital passou a envolver o paciente em seus processos, objetivando criar valor para o mesmo (BOWEN; YOUNGDAHL, 1998). No entanto, foi só no ano de 2006 que o pensamento lean foi estruturado com objetivo de difundi-lo nos serviços de saúde (SILBERSTEIN, 2006). Essa estruturação foi realizada por meio da Lean Enterprise Academy (LEA), organização sem fins lucrativos, responsável pelo primeiro congresso sobre aplicação de princípios Lean em serviços de saúde (LEAN HEALTH FÓRUM, 2006).
No âmbito nacional, Ferro (2006) destaca que o Lean pode ser aplicado em qualquer setor, citando o sistema de saúde dos EUA. Segundo o autor, executivos que aplicaram com êxito o método nas indústrias, começaram a migrar para hospitais e passaram a liderar essa mudança transferindo as técnicas industriais para as organizações hospitalares. Porém, somente em 2008 começaram as primeiras implementações práticas pelo Instituto de Oncologia do Vale (IOV) da cidade de São José dos Campos-SP. Como resultado dessa implementação, o IOV conseguiu aumentar a qualidade, eficiência e sua capacidade operacional (PINTO; BATTAGLIA, 2014).
É difícil encontrar uma definição que contemple tudo o que realmente é a metodologia Lean healthcare. Essa é uma metodologia recente se comparada à sua aplicação nas indústrias de automóvel, mas que está se aperfeiçoando a partir das dificuldades vivenciadas na manufatura.
Revisão de literatura composta de 22 artigos sobre intervenções do Lean, conclui não haver comprovação que essas intervenções podem levar a melhores resultados na área da saúde (MORAROS; LEMSTRA; NWANKWO, 2016). Contudo, Faria (2013), ao analisar oito casos de implementações do Lean na área da saúde, verificou clara potencialidade de melhorias, apesar de a metodologia necessitar de alguns ajustes para cada setor.
Diante de várias implementações realizadas, é possível verificar que o Lean não é um método fácil de ser empregado. Ele depende de profissionais que contemplem experiência e completo domínio da temática, além disso, é perceptível a necessidade de adaptação do método, já que este foi concebido para uma linha de produção e está sendo adaptado para um fluxo extremamente complexo, próprio dos serviços de saúde. Porém, evidencia-se que quando implementado com êxito, o Lean healthcare produz resultados elevados que dificilmente poderiam ser alcançados com outro método de gestão.